No Paraguai, Abdelmassih tinha carro de luxo, chofer e usava nome Ricardo

Casa onde vivia Roger Abdelmassih enquanto estava foragido em Assunção, no Paraguai (Foto: Glauco Araújo/G1)Casa onde vivia Roger Abdelmassih enquanto estava foragido em Assunção. 

As informações foram repassadas pelo ministro antidrogas do Paraguai, Luis Alberto Rojas, que também afirmou que Abdelmassih morava em uma casa luxuosa em um bairro nobre da capital paraguaia, pela qual pagava um aluguel de US$ 2,5 mil.
O ex-médico Roger Abdelmassih, 70 anos, preso nesta terça-feira (20) em Assunção, no Paraguai, levava vida de luxo, segundo autoridades do país. Tinha babás, chofer, seguranças, frequentava restaurantes caros e exclusivos com a mulher e usava o nome Ricardo.
Um dos automóveis era um Mercedes modelo E 350, em nome de Juan Gabriel Cortaza. A polícia informa que o carro foi vendido, mas não foi transferido por Abdelmassih. Já para os filhos, havia um Kia Carnival modelo 2012, em nome da empresa Gala Import e Export S/A.
O ex-médico era monitorado por uma equipe da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad) e da Polícia Federal brasileira há oito dias.  Abdelmassih foi preso quando saía de um estabelecimento comercial, no bairro Villa Morrá, em Assunção, às 14h30. Ele estava acompanhado da mulher (veja fotos abaixo).

O brasileiro contava com apoio de uma rede local de proteção que incluiu políticos, policiais corruptos e até dirigentes internacionais de futebol, segundo o ministro antidrogas do Paraguai.
Apesar de ter feito o apontamento, a autoridade local não quis revelar nomes para não atrapalhar as investigações, que agora deverão ser comandadas pelo Ministério Público do Paraguai e pelo órgão responsável pela imigração do país.
O médico Roger Abdelmassih desembarca no Aeroporto de Congonhas, Zona Sul de São Paulo, após ser preso no Paraguai (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo)Abdelmassih desembarca no Aeroporto de
Congonhas. (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura
Press/Estadão Conteúdo)
"Tivemos a rapidez de conseguir a expulsão dele de imediato, pois ele estava sem os documentos pessoais e havia um pedido de prisão contra ele. A velocidade da expulsão, que ocorreu dentro da lei, poderia prejudicar o julgamento dele pelos crimes que ele cometeu no país dele. Ele tem contatos influentes, tanto no Brasil como no Paraguai, muito influentes, desde políticos, policiais corruptos e até dirigentes internacionais do futebol", disse o ministro.

Essa influência de Abdelmassih fez com que ele pudesse passar três anos no Paraguai sem ser incomodado, principalmente pela polícia do país. "Ainda não sabemos se esse apoio influente que ele tinha o ajudou a entrar no país, a permanecer no país como estava, a talvez usar documentos falsos. Isso ainda está sendo investigado, a mulher dele será chamada para prestar depoimento sobre os documentos dos filhos, dela e do próprio Roger", disse Rojas.
Segundo a investigação do governo paraguaio, Abdelmassih levava vida de luxo, tinha babás, cozinheira, enfermeira, chofer, seguranças, frequentava restaurantes caros e exclusivos com a mulher e usava o nome Ricardo.
"A gente achava que ele era um embaixador brasileiro ou um empresário milionário. Ele se mudou para essa casa há três anos, foi quando começou a ter movimento na casa. Eles trocavam de empregados de dois em dois meses", disse um dos moradores, vizinho de calçada.
Carro que era utilizado pelo ex-médico Roger Abdelmassih. (Foto: Glauco Araújo/G1)Carro que era utilizado pelo ex-médico Roger Abdelmassih. 
Condenação e fuga
Roger Abdelmassih tem 70 anos e era considerado um dos principais especialistas em reprodução humana no Brasil. Ele foi condenado pela Justiça a 278 anos de reclusão pelos crimes de estupro e atentado violento ao pudor.
Ele estava foragido desde 2011 e  foi preso na tarde de terça-feira (19) em Assunção, capital do Paraguai.  Abdelmassih foi condenado por estuprar, 37 pacientes, que disseram ter sido atacadas dentro da clínica que ele mantinha na Avenida Brasil, na região dos Jardins, área nobre da cidade de São Paulo. Ao todo, ele foi acusado ter cometido 48 ataques, entre estupros e atentado violento ao pudor.
Roger Abdelmassih é fichado pela polícia paraguaia após ser preso em Assunção. Médico é condenado a 278 anos de prisão por estupro contra 39 pacientes (Foto: Divulgação/Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai)Abdelmassih é fichado pela polícia paraguaia após
ser preso em Assunção. (Foto: Divulgação/
Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai)
Conforme o delegado Marcos Paulo Pimentel, oex-médico vivia ilegalmente no país vizinho, não trabalhava e morava com a mulher em uma residência de luxo em Assunção. As investigações concluíram que ele saiu do Brasil por uma fronteira terrestre. Todavia, Pimentel não soube precisar qual foi a rota usada.
Médico alegava inocência
O ex-médico sempre alegou inocência. Chegou a dizer que só ‘beijava’ o rosto das pacientes e vinha sendo atacado por um "movimento de ressentimentos vingativos". Mas, em geral, as mulheres o acusaram de tentar beijá-las na boca ou acariciá-las quando estavam sozinhas - sem o marido ou a enfermeira presente.
Algumas disseram que foram molestadas após a sedação. De acordo com a acusação, parte dos 8 mil bebês concebidos na clínica de fertilização também não seriam filhos biológicos de quem fez o tratamento.
Disfarces
Para chegar ao ex-médico, a Polícia Federal usou um programa específico, que montou várias imagens com a foto de Abdelmassih. Nelas, o sistema fez projeções de como ficaria o rosto dele com fantasias e disfarces, como tintura capilar, uso de chapéus e óculos escuros.
As denúncias contra o médico começaram em 2008. Abdelmassih foi indiciado em junho de 2009 por estupro e atentado violento ao pudor. Ele chegou a ficar preso de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009, mas recebeu do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de responder o processo em liberdade.